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MAIS CONHECIDO COMO CANDEIA
 
Antonio Candeia Filho (Rio de Janeiro RJ 1935 - idem 1978). Compositor, cantor e instrumentista. Nascido e criado no Bairro de Oswaldo Cruz, participa de rodas de samba em que conhece os músicos Zé com Fome, Luperce Miranda e Claudionor Cruz.
Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1978, morre o cantor, compositor e militante
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 de agosto de 2019, faria 84 anos. Por todo o Brasil, sua legião de fans,
se preparam para relembrar seu nome, sua música!

A obra de Antonio Candeia Filho encontra-se profundamente ligada à defesa da cultura afro-brasileira. O compositor traz à sua produção musical as sonoridades que vivencia desde a infância, como os batuques de terreiro, as cantigas de capoeira, as rodas e quadras das escolas de samba.

Parte significativa de suas composições não se dissocia de sua atuação nesse ambiente. Ligado à Portela até meados dos anos 1970, Candeia contribui para importantes inovações coreográficas nos desfiles, além de ser coautor de inúmeros sambas-enredos vitoriosos, entre eles Histórias e Tradições do Rio Quatrocentão (1965), em parceria com Waldir 59. Este é um típico "lençol", samba-enredo com mais de 40 versos, que narra a história da cidade do Rio de Janeiro desde a fundação por Estácio de Sá até o século XX. Incorporando os aspectos comuns ao gênero, sua produção musical incialmente é caracterizada pelos sambas patrióticos e de exaltação à escola, como Portela É uma Família Reunida, parceria com o sambista Monarco - gravado em 1988 por Cristina Buarque, Wilson Moreira, Aniceto do Império, Mauro Diniz, Mauro Duarte, Paulo Cesar Ribeiro em disco editado pela Fundação Nacional de Arte (Funarte) em homenagem ao compositor.

Embora sua atuação como compositor seja extensa na juventude, é justamente a partir de um trágico acontecimento em sua vida que Candeia passa a se dedicar exclusivamente à música. Nessa época compõe canções de temas intimistas, algumas registrando a sequela da tragédia, como o samba De Qualquer Maneira (1971), em que diz "Sentado em trono de rei / Ou aqui nesta cadeira / (...) / Enquanto houver samba na veia / Empunharei meu violão". O mesmo álbum Seguinte...: Raiz, reeditado em 1976 com o título Filosofia, traz a balada Imaginação, que, dialogando com o soul em sua melodia, expressa novamente a condição do artista, e fala do "despertar numa manhã de sol de verão" - alusão ao momento em que retoma a vida musical. Raiz demonstra a diversidade musical de Candeia, ao trazer essa balada ao lado de batuques e cantigas adaptados da capoeira. Mais um destaque do álbum é a vamonha Saudação a Tôco Preto, na qual o ritmo originário do candomblé se transforma num groovie, atualizado pelos arranjos de metais e órgão.

O samba, no entanto, se sobressai em sua obra. E é explorado pelo compositor em suas diversas vertentes, desde o partido-alto - considerado por ele como a expressão mais autêntica - até o samba-canção. Sua preferência pelo gênero resulta em grande número de gravações que se aproximam de rodas de samba, acompanhadas por violão, cavaquinho, agogô, pandeiro, surdo, e outros instrumentos de percussão, sem deixar de lado participações pontuais de instrumentos de sopro, como em Samba da Antiga (1970), em que sua voz faz um dueto com o trombone de Raul de Souza.

A criação de Candeia está ligada ao ambiente de espontaneidade ensejado pelas reuniões de partideiros. Isso fica registrado na Seleção de Partido-Alto do LP Samba de Roda, de 1975, no qual se percebe o diálogo corriqueiro entre os presentes - o compositor-cantor, na transição dos partidos Não Tem Veneno e Eskindolelê, comenta: "Escuta aí o som. Carlinhos no surdo não 'tá' fácil! Vou embora, hein?". Esses sambas empregam elementos estruturais do partido-alto, caracterizado pelo estribilho fixo, cantado pelo coro, que se alterna com versos improvisados. No Testamento de um Partideiro (gravado pelo grupo Os Originais do Samba, em 1976), Candeia expressa poeticamente a concepção de mundo e de samba que perpassa sua obra: "O sambista / não precisa ser membro de Academia / Ao ser natural com sua poesia / o povo lhe faz imortal".

Entre os sambas-canções, Candeia deixa obras-primas de sofisticado lirismo em sua poesia e harmonia. Um exemplo é Minhas Madrugadas, gravado primeiramente por Elizeth Cardoso no álbum Elizeth Sobe o Morro (1965), e depois pelo coautor, Paulinho da Viola, com Elton Medeiros, no LP Samba na Madrugada (1966). Outro é o clássico Preciso Me Encontrar, composto para o álbum de Cartola, de 1976, no qual o fagote é escolhido para marcar os graves da música, remetendo ao timbre de Candeia.

Um viés relevante assumido por sua obra se relaciona à transformação do cenário musical e carnavalesco nos anos 1970, pela espetacularização dos desfiles transmitidos pela televisão. Candeia inicia então uma militância que culmina na fundação do Gran Quilombo, interpretada por ele como "uma greve de sambistas contra a poluição do meio" (Candeia e Isnard, 1978: p. 88). No samba Nova Escola, de 1975, esclarece as ideias que norteiam a construção da nova agremiação: "Samba é a verdade de um povo / Ninguém vai deturpar seu valor". Adota uma postura crítica com relação à poesia e aceleração do ritmo dos sambas-enredos, e, sobretudo, quanto ao afastamento das camadas populares originalmente partícipes do processo de criação. Candeia, nesse período, compõe ainda muitos sambas que tratam da temática racial, como Dia de Graça, de 1969 (regravada em 1980), em que clama para que o negro valorize sua identidade cultural.

Candeia é uma referência para os sambistas até os dias atuais. Seus sambas fazem parte do repertório de importantes intérpretes da música popular, como Marisa Monte, Teresa Cristina, Clara Nunes, Paulinho da Viola e Martinho da Vila - estes parceiros do compositor. Entre eles, destacam-se A Flor e o Samba (1969), gravada por Beth Carvalho, Elza Soares, Zeca Pagodinho, Filosofia do Samba (1971), O Mar Serenou, Luz da Inspiração (1975), 

 

Amor Não É Brinquedo (com Martinho da Vila), Pintura sem Arte, Ouro, Desça do Seu Trono (parceria póstuma com Paulo da Portela), Ouço uma Voz (com Nelson Amorim) e Gamação (1978). O samba aparece em sua concepção musical como forma e conteúdo. Além de "lamento", "sofrimento", "fuga dos ais", como canta em Pintura sem Arte, o samba é defendido pelo compositor como uma maneira de afirmação cultural e meio para transformação da realidade.

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